Como parte da cobertura do ArchDaily sobre a Bienal de Veneza de 2016, apresentamos uma série de artigos escritos pelos curadores das exposições e instalações à mostra no evento.
De acordo com o tema proposto pelo diretor Alejandro Aravena para a 15ª Bienal de Veneza, "Reporting from the Front", o pavilhão sul-africano de 2016, localizado no edifício D na Sale d'Armi, apresenta resultados de sucesso e soluções práticas para os desafios urbanos, concebidos e implementados pelos cidadãos da capital administrativa da África do Sul sob a organização de "Cool Capital".
Com curadoria do arquiteto Pieter J. Mathews da Mathews & Associates Architects, o pavilhão sul-africano deste ano recebe o nome de “The Capital of Uncurated Design Citizenship” e apresenta uma seleção de projetos de Cool Capital – um experimento urbano e ato de amor para Mathews e uma pequena equipe de dedicados arquitetos, artistas e designers que começaram em 2012, coincidentemente na Bienal de Arquitetura de 2012.
O laboratório urbano de Cool Capital é Pretoria, capital administrativa da África do Sul, situada a 60km ao norte de Johannesburg. Frequentemente negligenciado como destino turístico internacional, Pretoria é uma típica cidade capital interiorana: a percepção é de que esta cidade, habitada com edifícios históricos governamentais, monumentos estoicos e diversas lembranças de um passado desconfortável, está suspensa num tempo passado e nada inspirador. Cool Capital prova que esta ideia é equivocada.
A chamada criativa de Aravena se refere ao poder dos cidadãos de se tornarem agentes ativos no fazer, formar e re-imaginar seu próprio ambiente e é exatamente neste espírito que foi lançado o Cool Capital. Começando com relativamente poucos participantes, o projeto rapidamente cresceu num movimento da cidade inteira com mais de 1000 participantes ativos e crescimento do engajamento nas mídias sociais.
Não foi muito antes do setor privado e das instituições educacionais se alinharem com os autodenominados líderes criativos da Cool Capital, não apenas vendo o potencial de parcerias poderosas, mas também a chance do Cool Capital usar como um laboratório para testar as ideias de propriedade e engajamento públicos.
Localmente referenciado como o primeira exposição DIY (do it yourself) sem curadoria da bienal, a intenção de Cool Capital era simples: desfazer a relação burocrática entre os cidadãos e os espaços públicos para encorajar uma nova apreciação de onde vivem. O projeto encoraja os cidadãos a redescobrirem partes marginalizadas e esquecidas da cidade e colaborar e se tornar agentes ativos no repensar criativo de Pretoria como um lar, local, destino e cidade-capital. Todos os projetos de Cool Capital desafiam, celebram, ou nivelam o status quo.
O pavilhão da África do Sul prova que ao dar curtos-circuitos no usual processo burocrático de permissões e aprovações, uma cidade pode ser efetivamente democratizada num senso criativo, conduzindo a um empoderamento substancial e sustentável e, acima de tudo - um novo tipo de coesão social para a África do Sul, As ideias de renovação urbana em domínio público continuam, mas incitam que esta discussão não deveria apenas ser entre profissionais da indústria, mas também incluir o público em geral.
O pavilhão agradavelmente sem limites da África do Sul apresenta algumas peças de instalações físicas de Pretoria, um pequeno filme de documentário sobre o evento inaugural e uma coleção inteira de 150 projetos liderados por cidadãos por 1000 participantes na forma de um catalogo disponível no pavilhão e na livraria. A exposição apresenta visitantes com paixão, diversidade e comprometimento dos residentes de Pretoria e demonstra o que pode ser conquistado quando cidadãos são providos com uma plataforma para engajamento construtivo com problemas identificados no domínio da arquitetura, arte e design. O projeto da Cool Capital já provou que esta abordagem pode consolidar a reputação de uma cidade como um centro notável de inovação africano-urbana. Mudanças realmente criativas não vêm de politicas administrativas, mas permanece nas mãos e mentes da cidadania inovadora e engajada.
De acordo com o comissário do pavilhão, Mr. Saul Molobi, "a participação da África do Sul na Bienal contribui para com as relações internacionais e dá visibilidade ao talento sul-africano para o resto do mundo. Este ano também será histórico no sentido de que não haverá trabalhos de apenas alguns poucos arquiteto e artistas, mas bastantes projetos com mais de 1000 participantes sul-africanos, provavelmente fazendo deste o pavilhão mais representativo da história do país em relação ao envolvimento com a Bienal. Estamos ansiosos para este projeto diplomático cultural reforçando a imagem positiva da África do Sul na Itália e deste modo aumentando o valor do país".
Neste ano a Cool Capital em Pretoria continua simultaneamente com a Bienal de Arquitetura de Veneza sob o mesmo tema de "pequeno é grande".